Ano VIII, número 64, 9 de outubro de 2018.
por Guilherme Arnaud
“O objetivo da argumentação ou da discussão, não deve ser a vitória, mas o progresso”. É diante da essência da frase do ensaísta francês Joseph Joubert que a cultura de debates vem crescendo no ambiente universitário em todo o Brasil e não podia ser diferente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde dois projetos de debates, a Sociedade de Debates da UFRN (SdD) e a União de Debates Competitivo do RN (UDC-RN), movimentam estudantes e simpatizantes dessa cultura.
O primeiro projeto de extensão a promover a prática na UFRN foi organizado em 2013 por estudantes do curso de Direito, no Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA). Eles criaram a Sociedade de Debates, que apresenta um crescimento evidente no decorrer dos anos, como explica Bruno Marinho, aluno do sexto período de Direito e Presidente da SdD: “Nossa equipe começou com quatro ou cinco membros e hoje já somos 20, sendo que mais de 50 pessoas já passaram pela sociedade como integrantes, além daquelas que participaram dos nossos eventos”.
Com o crescimento das discussões, outro grupo percebeu a necessidade de criar a União de Debates Competitivos do RN (UDC-RN). O projeto surgiu em em 2017, com um sonho ambicioso, como registra Giovanni Begossi, estudante do oitavo período do curso de Direito e co-fundador da UDC: “Nosso projeto surgiu do sonho de ver o Brasil nos pódios internacionais do debate. No cenário atual do debate competitivo brasileiro, ainda há certa defasagem entre o modelo utilizado internacionalmente e o adotado pela maioria das sociedades brasileiras, por isso buscamos debater da mesma forma como se faz em Oxford, Cambridge, Harvard e Yale”.
A SdD realiza debates-treino abertos para o público de qualquer curso e instituição, inclusive de Ensino Médio, às terças-feiras, a partir das 15h30, no Nepsa II, além de eventos aos sábados quinzenalmente, às 9h. Antes dos debates, é feita uma formação sobre o tema, com apresentações e exibições acerca da temática.
Já a União de Debates Competitivos do RN organiza debates-treino abertos para o público todas as quartas-feiras, das 16h às 18h30, também no Nepsa II e, em toda última quarta do mês, o debate é realizado totalmente em inglês, uma iniciativa pioneira no cenário de debates competitivos de países de língua portuguesa. A UDC-RN também realiza formações sobre o tema antes dos debates com especialistas ou pessoas com expertise no assunto. As atividades de ambos os grupos são abertas e não é preciso ter conhecimentos específicos para participar das práticas.
Além do debate
Os debates influenciaram a vida de Bruno Marinho na forma de se comunicar. “A partir da participação na SdD, percebo que consegui ter uma abordagem muito mais objetiva daquilo que é o cerne da discussão. Ou seja, tenho a possibilidade de aproveitar melhor um curto espaço de tempo para expor aquilo que consigo visualizar como mais importante e isso permeia diversos aspectos da minha vida”, explica o estudante.
Já em sua vida profissional, o jovem afirma que o debate ajudou no seu desenvolvimento. “Enquanto estagiário, escrevia peças jurídicas de 30 páginas e hoje escrevo de 10 páginas com muito mais qualidade e conteúdo do que antes”, aponta Bruno.
Para Giovanni Begossi, o debate proporciona novas experiências e acrescenta tanto para o indivíduo quanto para a sociedade. “Além de desenvolver a capacidade de comunicação e pensamento crítico, o debate competitivo permite fazer novas amizades, divertir-se, conhecer novos lugares e fortalecer a sociedade civil.”, afirma.
O estudante ainda ressalta as habilidades trabalhadas pela prática do debate. “Ajuda a falarmos de forma mais clara, confiante e, principalmente, transmitirmos melhor nossas ideias. Somos instigados a compreender o mesmo assunto sob diferentes perspectivas, a gerar mais e melhores ideias sobre determinado tema e a detectar erros, não só nos raciocínios dos outros, mas também no nosso próprio.”, conclui.
Já para Juan Lucas de Oliveira, estudante do quarto período de Direito e membro da Sociedade de Debates, o projeto ajuda no senso crítico quanto à argumentação. “O impacto pode ser na forma de você analisar um debate. Por exemplo, eu só pensava no que ia falar e falava, mas ao participar, é possível distinguir o que é uma técnica de retórica, de desencadeamento argumentativo ou argumento moral”, explica.
Juan, também, comenta que o debate contribuiu no desenvolvimento de suas capacidades individuais. “A cultura do debate me ajudou muito a falar em público. Sempre tive esse medo de falar para plateias ou para pessoas que nunca vi na vida, então foi algo que me aprimorou pessoalmente.”, completa.
Modelo
Os debates praticados pelos projetos, bem como nas competições regionais e nacionais, seguem o modelo parlamentar britânico (British Parliamentary). As atividades são formadas por 8 pessoas divididas em 4 duplas. Cada equipe defende uma posição. Então, é dada uma moção, que é o tema que será debatido.
Além de trabalhar a técnica, os grupos se preocupam sempre em abordar temas relevantes para a sociedade, como ressalta Bruno: “Discutimos vários temas, sempre buscando inserir uma função social, não só discutir por discutir. Buscamos ter um viés social nas nossas questões”, explica.
Ao final dos debates, uma dupla vitoriosa é escolhida pela mesa adjudicadora, que avalia diversos aspectos dos competidores, como pontos de informação, argumentação, refutação ou formas de expressão. Além disso, os adjudicadores são responsáveis pelo controle do uso do tempo nas falas e, não podem levar em consideração opiniões pessoais, devendo avaliar pela qualidade e solidez dos argumentos.
Destaque
Os dois projetos representaram a UFRN no 5º Campeonato Brasileiro de Debates (CBD), realizado entre os dias 6 e 9 de setembro deste ano, em Brasília – DF. O Campeonato é organizado anualmente pelo Instituto Brasileiro de Debates (IBD), uma associação sem fins lucrativos, que visa ao fomento da tradição de debates no Brasil. Tanto a Sociedade quanto a União de Debates, além de outros 15 projetos de todo o país, são associadas ao IBD.
Na competição, a UFRN consagrou-se campeã no I Campeonato de Oratória, representada por Giovanni, além de ter se classificado em 8º lugar, entre 68 times, para a fase eliminatória da competição de duplas. A UFRN ainda conquistou o 2º lugar no campeonato de adjudicação do CBD. Já em abril de 2018, a UDC-RN chegou até as semifinais do I Campeonato Mundial de Debates em Língua Portuguesa, realizado em Cascais, distrito de Lisboa (Portugal), organizado pela Sociedade de Debates da Universidade de Lisboa.
Eventos
Entre os dias 26 e 29 de julho de 2018, a Sociedade de Debates da UFRN organizou o Armorial: Campeonato Nordestino de Debates. O evento é realizado anualmente em sedes rotativas pelo nordeste e este ano contou com sociedades de debate de diversos locais do país para integrar projetos de diversas universidades e estados.
Além disso, a SdD realiza, nos meses de maio, o Torneio Anual de Debates, para aplicar os aprendizados dos treinos, com alunos de diversos cursos, instituições de ensino e até mesmo de outros estados como Paraíba e Ceará. Na última edição, a SdD convidou os juízes Henrique Baltazar, da Vara de Execuções Penais e Rosivaldo Toscano, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar, para debaterem sobre Estatuto do Desarmamento no Brasil.
Tanto a SdD quanto a UDC realizam atividades constantes em eventos realizados pela Universidade, como a Cientec e o Seminário de Pesquisa do CCSA, com oficinas e minicursos.
Já no período de 16 a 18 de novembro, a UDC-RN realiza a primeira edição do Open de Natal, uma competição de debates com o objetivo de reunir pessoas de todo país, para discutir temas nos moldes de competições internacionais, no modelo British Parliamentary. Outras informações podem ser consultadas no evento do Facebook.
0 Comments