Por Brena Queiroz e Jeferson Rocha
Quão corrupto é o Brasil aos seus olhos? Se você está entre as pessoas que acham que vivem em uma das nações mais corruptas do mundo, acertou em cheio. O Fórum Econômico Mundial aponta isso. Em ranking com outros 138 países, nosso verde e amarelo só fica atrás da Venezuela, Bolívia e da República do Chade, localizado no centro-norte da África.
Cada vez mais os brasileiros reconhecem o problema. Os escândalos que assolaram o país no último ano, em especial os revelados pela Operação Lava Jato, contribuíram para que caíssemos seis posições na lista da Transparência Internacional que avalia a percepção dos habitantes sobre o problema. Hoje, somos vistos como a 76ª nação mais corrompida.
Mas ser corrupto não é competência dos mais privilegiados. No livro “A mais pura verdade sobre a desonestidade”, Dan Ariely – professor de Psicologia e Economia Comportamental da Universidade de Duke, Estados Unidos – garante que roubar ou não é uma questão de custo-benefício. Logo, é uma atitude racional.
Quem explica a proposição de Dan Ariely é o professor Agamenon Segundo, do Departamento de Ciências Contábeis (DCC) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Inspirado na leitura da obra, ele escreveu e defendeu em maio de 2016 sua dissertação de mestrado “Determinantes da fraude financeira: a relação entre os aspectos de racionalidade e a desonestidade”.
Experimento
A pesquisa foi realizada com a participação de 114 alunos dos cursos de Ciências Contábeis e Administração da UFRN com idade entre 17 e 43 anos. Agamenon observou quais padrões éticos podem influenciar o ser humano, quando imerso em ambiente com total liberdade para desonestidade, nenhum risco de ser pego e com ganho financeiro.
Para isso, cada aluno precisou resolver questões matemáticas em cinco minutos. “É um experimento validado pelo autor do livro. Ele coloca vinte tabelas com números diferentes, cujo objetivo é encontrar dois deles, que a soma dê exatamente dez. Para cada resposta certa, pagava R$ 0,50”, disse. Quando o tempo esgotava, os participantes anotavam a quantidade de acertos em um papel à parte. “Eu não conferi os cálculos, não ficava prestando atenção. A folha com o questionário era jogada fora, mas só havia uma possível resposta certa”, revela.
O resultado surpreendeu positivamente: apenas 40 alunos que participaram do teste foram desonestos, sendo 21 homens e 19 mulheres – percentual de 35% que o pesquisador esperava ser maior. Outra curiosidade é que nenhum dos participantes afirmou ter acertado mais de seis questões, provavelmente para não levantar suspeitas. Segundo o pesquisador, este comportamento mostra que as pessoas são desonestas até o ponto em que não fere seus padrões éticos e sua autoimagem.
E muitas podem ser a variáveis que influenciam neste limite. Na pesquisa, surgiram dois principais inibidores. Alunos com frequência em cerimônias religiosas – seja católica, evangélica, espírita – e acima do 5º período da graduação tendem a ser mais honestos. De acordo com o pesquisador, é um indicativo de que o ambiente pode acabar influenciando os cidadãos.
Gênero, idade e renda familiar apresentaram valores insignificantes para análise. No entanto, vale ressaltar que indivíduos com renda inferior a um salário mínimo não foram mais desonestos que os participantes com renda superior a 16 salários. A desonestidade é uma decisão sobre ganho e perda que pouco tem a ver com a situação patrimonial.
Pesquisa pioneira
Este tipo de pesquisa não costuma ser realizada no país. Segundo Agamenon Segundo, o experimento é pioneiro na UFRN, em especial na área das Ciências Sociais Aplicadas. Ainda hoje, meses após a defesa da dissertação, lembra a estranheza dos alunos e professores sobre o experimento. “Muitos deles não acreditavam que eu ia pagar ou contestar a aplicação do questionário”.
O professor Dr. José Dionísio Gomes, orientador do trabalho, ressalta a importância da pesquisa. “A corrupção hoje é o tema mais importante para a sociedade, porque o dinheiro desviado no Brasil está fazendo falta na compra de leite, remédio, assistência social e saúde. Então, quando a gente faz uma pesquisa como essa, com testes, avançamos no entendimento do problema”, garante.
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