Existem coisas enormes acontecendo no intervalo do fechar dos nossos olhos, um piscar é quase uma revolução e toda grande mudança começa por palavras. As revoluções extraordinárias de Teresa Pires não foram diferentes, e para quem, como ela, tem sangue de flor, sentir o mundo é uma tentativa constante de por estes sentimentos em algum lugar, tão fortes que ultrapassam o próprio papel.
Talvez por este motivo, as palavras têm sido suas companheiras desde muito cedo e com o estímulo certo, a arte se tornou rapidamente a sua forma máxima de expressão, uma forma generosa que a faz sentir não somente segura como tranquila.
Seus pais desde seus primeiros anos a fizeram mergulhar no mundo das palavras, da pintura e do desenho. “Eu fui privilegiada com educação artística em casa, porque papai foi radialista, foi jornalista do primeiro curso do Rio Grande do Norte e papai gostava muito de ler. Então eu aprendi a ler com 4 anos, aos 6 eu ganhei um concurso de redação, sempre gostei de ler e escrever”.
Sua mãe talvez seja responsável por todo lado prático que existe em suas mãos e olhos e faz a sua vida concretamente estar cercada de arte, entre quadros, bordados e mais recentemente os mini jardins, pequenos apenas a primeira vista, pois escondem um universo de delicadeza e cuidado.
“Minha mãe desde que eu era muito pequena me ensinou a bordar: aos 5 anos eu estava bordando em cartela de papelão. Com desenho e pintura do mesmo jeito, com 4 anos ela me ensinou que o desenho de uma casa tinha que ter perspectiva, porque se não o telhado ficava torto. Quando eu tinha que desenhar uma figura humana eu colocava olho, cílio, sobrancelha”. Conta ainda como tudo isso era extremamente natural, bastava observar a mãe que o desejo de imitá-la nascia, como se estar junto fosse o impulso necessário para mover céus, pincéis, cores e palavras.
A profissão que Teresa escolheu não poderia escapar do tanto recebido, da vontade de estar com pessoas, sua formação em psicologia foi uma consequência de seu já conhecimento e atuação na área da saúde, ela, também técnica em enfermagem, sempre gostou de estar cercada pelo mundo.
“Minha chegada no CCSA se deveu muito ao fato de eu ter feito psicologia, quando eu fiz o curso eu descobri que além da área clínica eu poderia atuar na área hospitalar e na área organizacional, foram as duas áreas que eu me interessei muito”, relata.
Hoje, responsável pela coordenação do Programa de Pós-graduação em Gestão Pública (PPGP), comenta que sempre gostou muito do CCSA: “Eu conhecia como aluna, tinha sido aluna de mestrado e sempre achava que (o CCSA) era muito desenvolvido dentro da universidade, nos assuntos que eram ligados a capacitação, eu achava que trabalhar aqui era uma coisa boa”. Seu pensamento foi concretizado e desde 2011 está como professora efetiva do Centro.
Teresa ainda carrega o desejo de um dia publicar um livro, mas a maioria dos seus escritos está guardado em cadernos antigos, da época da sua adolescência. “Eu passei a infância e adolescência sempre lendo, escrevendo e contando histórias.”
“A maior parte dos meus escritos eram coisas que eu vivia e que eu não podia falar ou coisas que eu imaginava, coisas da minha vida mental”, os diários que ela escrevia foram deixados de lado, ou melhor, disfarçados em poesia. Sua mãe nunca gostou de saber da existência destes, quando encontrou o caderno escrito pela filha tratou logo de rasgá-lo e proibí-lo.
Como não poderia deixar de lado seu caderninho, uma ideia surgiu: “lá em casa todo mundo valorizava muito ler, sempre tava com um livro na mão, papai gostava de poesia, eu tive uma ideia e comecei a escrever poesia, porque eu podia escrever o que eu quisesse e ninguém questionava, nem nunca ninguém rasgou”, conta rindo.
Para ela, os trabalhos artesanais a fazem superar momentos de estresses do dia a dia. Dos pequenos afazeres domésticos aos artísticos, atualmente, sente que a jardinagem é onde consegue relaxar. “Essa coisa de fazer os jarros e os mini jardins começou meio por acaso porque eu gosto muito de ver vídeos de coisas de casa, tudo que for manual eu gosto. E eu acho que ela vai durar um longo tempo porque eu gosto muito de plantas e de presentear as pessoas com isso”.
A poesia é, quem sabe, um presente particular que damos ao mundo, em um trecho de um de seus antigos textos, escreveu: “saudade para ele é o amor que já se sente antes de partir, para ela saudade é existir”. Para Teresa, talvez, a saudade seja justamente isto: a existência, uma eterna saudade, do que já foi e do que está presente. O amor que sabemos já existir e por essa razão precisa ser lembrado, que permanece, por isso o efeito que nos causa já é conhecido, antes mesmo da despedida.
Teresa sente o mundo como uma flor, suas revoluções são as mesmas pelas quais a natureza passa de acordo com as estações. Não é difícil imaginar o porquê de seu mais recente afeto ter sido depositado em seus jardins, é como uma volta para casa, em todos os sentidos possíveis, Teresa está em casa com todas as gerações que a antecederam e as que estão por vir.
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